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Artigo — Urbanização e alterações no ciclo hidrológico da Bacia do Rio dos Sinos*

Nem toda a chuva se converte em vazão nos rios: uma parcela infiltra no solo, outra fica interceptada nas folhas e galhos da vegetação, e outra ainda pode ser perdida por evaporação durante o evento pluviométrico.

12 de novembro de 2025

Magali Schmitt

Magali Schmitt

©Freepik

Nos últimos anos, diversas regiões têm enfrentado eventos extremos que resultaram em episódios de inundação.

Nos últimos anos, diversas regiões do estado têm enfrentado eventos extremos de precipitação que resultaram em vazões máximas nos rios e episódios de inundação. Entretanto, nem toda a chuva se converte em vazão nos rios: uma parcela infiltra no solo, outra fica interceptada nas folhas e galhos da vegetação, e outra ainda pode ser perdida por evaporação durante o evento pluviométrico. A água que infiltra no solo contribui para a recarga dos aquíferos, que, por sua vez, alimentam a vazão dos rios por meio do escoamento de base. Assim, a vazão que escoa pelos rios, principalmente pelos rios perenes, representa o somatório da contribuição subterrânea (escoamento de base) e da água precipitada que escoou pela superfície do solo (escoamento superficial).


Portanto, a infiltração da água da chuva no solo é um processo fundamental no ciclo hidrológico. A infiltração é maior em áreas naturais e vegetadas, e reduz significativamente em áreas urbanizadas.

 

Compreendendo os processos do ciclo hidrológico, podemos avaliar o impacto da expansão urbana na infiltração da água da chuva na Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos. Uma primeira abordagem para isso é avaliar o uso e ocupação do solo por meio de dados disponíveis, como o mapeamento anual de cobertura e uso da terra do projeto MapBiomas¹. Por meio de imagens de satélite, o projeto identificou nove classes: floresta, vegetação herbácea e arbustiva, agropecuária, área não vegetada, corpo d'água e não observado. Cada classe possui subclasses; especificamente, a classe "área não vegetada" contempla praia, duna e areal, área urbanizada, mineração e outras áreas não vegetadas.

 

A partir dos dados do projeto MapBiomas, foi possível analisar a evolução da cobertura e uso da terra na Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos entre 1985 e 2023, conforme dados apresentados no Trabalho de Conclusão de Curso defendido em julho de 2025². Ao longo desses 38 anos, algumas classes aumentaram em área e outras diminuíram. A área de floresta diminuiu 14%, e a área de vegetação arbustiva e herbácea diminuiu 3%. Por outro lado, a área de agropecuária aumentou 41%, a área não vegetada aumentou 93%, e a área de corpo d'água aumentou 8%. Analisando especificamente a subclasse "área urbanizada" (contemplada em área não vegetada), observa-se que a área dobrou no período analisado. O aumento da área urbanizada e a redução nas áreas de floresta e vegetação arbustiva e herbácea geram impacto significativo no ciclo hidrológico, diminuindo a infiltração da água da chuva no solo e aumentando o escoamento superficial.


Estudos mais aprofundados são necessários para quantificar a magnitude do impacto da alteração do uso do solo no aumento do escoamento superficial; entretanto, os dados evidenciam a importância de se considerar medidas para aumentar a infiltração, como aquelas utilizadas no conceito de cidades-esponja.

 

Referências

 

1 MAPBIOMAS. Projeto MapBiomas – Coleção 9 da Série Anual de Mapas de Cobertura e Uso da Terra do Brasil. Disponível em: https://brasil.mapbiomas.org.

2 WASEN, M. N. O impacto das chuvas e da ocupação urbana nas enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul. 2025. 65 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Geologia) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2025.

 

 

*Autoras:

Maitê Neuhaus Wasen

Geóloga

 

Joice Cagliari

Professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Geologia

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

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